Trilho dos Pescadores // dia 1
Março 28, 2015
porto covo > vila nova de milfontes
acordámos cedo como previsto, e como previsto pelo windguru, o cenário lá fora estava agreste. chuvada e ventania assim pró medonhas.
as previsões eram que até às 9 da manhã o tempo ia estar bera mas que depois começava a acalmar. então deixámos-nos ficar na ronha, a ver o que acontecia.
…e não é que às 9 da manhã deixou de chover? ala que se faz tarde!!
saltámos da cama e fomos à caça de uma mercearia. água, material para as sandes e uma coisa importantíssima que estava em falta e eu não queria começar sem: vaselina!
depois do farnel aviado, arrumamos a trouxa, despedimo-nos do hostel e fomos tomar o pequeno-almoço. nos entretantos, as nuvens tinham começado a dissipar e o dia começava a ganhar outra graça.
o homem saiu do snack-bar a dizer que éramos uns tenrinhos, nós a comer queques ao pequeno-almoço e um local a aviar uma bifana carregada em mostarda, acompanhada de um galão (sim, bifana com galão muhahah). aquilo é que devia dar alento prá caminhada!
por volta das onze iniciamos a nossa jornada. por aquela que é a etapa mais difícil do trilho.. é uma cena tão nossa que se não fosse assim, não tinha piada lol
mas estava tão contente por finalmente ir fazer aquilo que não queria saber nem do mau tempo, nem da distância, nem da dificuldade, nem da mochila. queria era andar, andar, andar. andar sem pressas, sem horários, sem preocupações.
os primeiros 10km foram feitos na boa, o trilho está muito bem marcado, nem era preciso olhar para o GPS. não deu foi para atravessar a praia dos aivados porque a maré estava altíssima e o mar a modos que pró agressivo.
tinha avisado o homem que era sensato fazer pausas a cada 5km para descansar as pernas, mas a primeira e única foi aos 12, junto à praia do malhão. já íamos um bocado cansados mas a coisa estava a correr tão bem que nem apetecia parar. ficamos por ali uma hora, enquanto repúnhamos as energias com umas sandochas de queijo e chourição.
a partir daí começou a tortura da areia a sério. areia. areia. areia a dar c'um pau.
por outro lado, a paisagem ia começando a ficar cada vez mais imponente, irregular, e selvagem. e linda, tão linda.. o caminho passa rentinho à falésia, é mesmo preciso ter cuidado nalguns sítios. quando avisam no site que este trilho não é recomendado a pessoas que sofram de vertigens ou tenham medo de alturas, não estão a brincar.
aos 16-7km já começava a ficar um bocado rabugenta. os km’s custavam cada vez mais a passar e já me doíam as pernas do esforço que é caminhar pela areia... o que não é muito justo, quer dizer.. farto-me de andar pela praia e nunca tive problemas! ok, com uma ligeira diferença, é sempre a pé descalço.. e sem tanto peso em cima :/
acho que se não fossem as canas que tinha deitado a mão logo à saída de porto covo, tinha ficado práli encostada a uma moita, à espera que a brigada de socorro me viesse resgatar, de helicóptero ou moto 4 artilhada ou assim :D bom, se tinha dúvidas em relação a comprar ou não bastões de caminhada, deixei de ter!
por falar em descalço.. os dois ali a deitar os bofes, quando passa por nós um tipo a correr descalço, em calções e tronco nú, com o ar mais feliz do mundo. não sei o que é que ele andou a tomar, mas naquele momento não me importava de ter um pouco do mesmo :D
algo que acho bastante curioso quando se caminha: não se nota o tempo a passar. vamos andado, e andado e andando e nem damos por ele. não chateia nem aborrece. demos por nós e seis horas de caminho já tinham passado. anyway, com distracções destas, quem é que está preocupado com as horas mesmo?
aos 20km aquilo já estava ser uma tortura, mas pelo menos já se avistavam casas lá ao fundo. já não faltava tudo.. mas às tantas precisei de ter uma conversa séria com o meu corpo:
"oh meu amigo, mékié.. há malta que *corre* a distância que eu te estou a impingir, numa fracção do tempo que estás a levar.. aliás, há malta que corre o dobro e mesmo assim em menos tempo.. pior ainda, há malta que atravessa a madeira a *correr*, consegues imaginar tal coisa? ganha mazé vergonha pá e pára de te lamentar, que isto não é nada. NADA.. ouviste? e aquelas pessoas que vão pás montanhas com 4x mais peso às costas, hem? yada yada yada..."
aos 22km alcançávamos finalmente vila nova de milfontes. já vinha completamente derreada.. agora, o mais giro (NOT!!) foi quando me apercebi, que o hostel que escolhemos ficava no outro extremo da vila.. mais 1,5km e tal a juntar àqueles 22 já me pesavam no corpo. ARGH!!
foi também por esta altura que comecei a sentir um ligeiro desconforto no calcanhar esquerdo. como sou bem mandada, parei logo para investigar o assunto. uma pequena bolhita, a dar o seu ar de graça.. na única parte do pé onde não tinha besuntado vaselina..
logo no primeiro dia.. sim senhora!
saquei das botas e das meias, arregacei as calças e enfiei as havaianas nos pés e lá fui eu. naquele momento prometi a mim mesma que nunca mais iria gozar com o homem por levar sempre as havaianas atrás quando sai de casa. o alivio que aquilo me proporcionou foi brutal!!
já custava a levantar os pés do chão quando o senhor do hostel nos apresentou ao quarto. só queria era tomar banho e cair na cama.
o quarto era pequeno mas *bastante* agradável, again, isto dos hostels estava a revelar-se numa excelente opção. mas logo reúno isso tudo num post mais à frente, acho que merecem que lhes faça publicidade à borla :)
jantamos num sitio novo (pelo menos para nós). queríamos experimentar a famosa pizzaria de milfontes mas como estava fechada, seguimos a recomendação do nosso anfitrião, e fomos ao pátio alentejano. nada mau, é o que tenho a dizer. uma dose dá na boa para duas pessoas, especialmente se uma delas está com pouco apetite porque teve um dia demasiado cansativo. ou então foi mesmo porque sorveu uma pratada sopa de feijão e espinafres deliciosa de entrada hi hi hi
de regresso ao quartel general, fomos até à cozinha/sala de estar e enquanto bebemos um cházito, o homem sacou o entretenimento daquela noite. não vi nem metade, que assim que bati com os costados na cama, não demorei nem 10 minutos a adormecer.