The Night Of
Agosto 30, 2016
foi o terceiro e provavelmente último achado da summer season.
como não estou aqui para enganar a malta, vou logo começar por dizer que inicialmente custou-me bastante a atinar com esta mini-série. o enredo não traz nada de novo, enjoa de tão trivial. já vi esta história ser abordada por mil perspectivas diferentes, e por mil actores diferentes. está gasta, é previsível e aborrecida.. como é que podia estar tão bem cotada no imdb, era o grande ponto de interrogação.
este foi o meu sentimento até praí ao terceiro episódio, quando tive a revelação: não é a história que interessa ali, mas sim a narrativa. e BAM! fiquei siderada!
é de uma lentidão desconcertante, tudo leva tempo a acontecer, está cheia de pausas que só aumentam ainda mais o suspense. o nível de detalhe é minucioso, porque os detalhes consomem tempo, e geralmente em tv somos poupados a eles. chega a assustar de tão real que é. real é a palavra-chave ali.
somos transportados para dentro da série, embutidos naquela atmosfera tensa, a viver na cauda daquele processo cruel, e a partilhar a angustia sufocante, a frustração e o desespero das pessoas que se movem naquele cenário sombrio e vagaroso. nem à burocracia somos poupados. é doloroso, morde-nos a alma.
as personagens estão desenvolvidas de forma realista e credível. têm um ar cansado, aborrecido, estão fartas de tudo. são (im)previsíveis com uma grande naturalidade, não deixam adivinhar muito bem as intenções que os movem. estamos sempre à espera que alguma revele uma agenda secreta, só que as nossas expectativas saem sempre rotas.
por serem tão "normais", conseguem criar uma empatia forte com quem está deste lado do ecrã, e são responsáveis por boa parte da carga psicológica e inquietante da série. ficamos com os nervos à flor da pele, a pensar se fosse connosco, o que faríamos se estivéssemos naquela situação.
não quero mesmo spoilar, mas levantando a ponta do véu um nadinha, somos apresentados a um puto um tanto ao quanto ingénuo, que tem a noite mais azada da vida dele, e vê-se envolvido num sarilho que o atira para a prisão. tudo o que há para correr mal, corre mal.
apesar do enredo ser previsível, não se consegue adivinhar muito bem o desfecho. nem o caminho até lá, porque quando menos se espera, batemos com o nariz numa parede, que altera o rumo das coisas. tal como na vida real.
acredito que não consiga agradar a todos, e pode ser difícil reconhecer-lhe o encanto, ofuscado pela da trivialidade da história. para mim foi uma estranha surpresa, achei-a brilhante, em todos os sentidos.