A consulta de oncologia
Junho 28, 2019
só o nome arrepia, mas a verdade é que nesta altura, já nada faz mossa. é só mais uma.
estive uma hora e meia à espera da minha consulta. momentos antes de ser chamada, saiu alguém do gabinete da médica, que deve ter recebido uma notícia muito má... uma pessoa fica sem palavras perante aquele desespero. uma lição valiosa que aprendi nestes dias:
nunca, nunca, nunca rezingar porque a consulta está atrasada, alguém numa situação MUITO mais grave que a nossa pode estar necessitado da atenção do médico, e naquele momento o médico é o nosso farol.
hormonoterapia era o motivo da minha consulta. como tinha sugado quantidades massivas de informação sobre esta história, estava carregada de dúvidas. tinha comigo uma listinha de perguntas, não me fosse esquecer de alguma.
devo ter causado uma rica impressão lol. tipo, olhem-me só esta gaja, chata c’ma potassa a fazer perguntas pelos cotovelos muhahah anyway, a médica parecia ter muito boa disposição, e não parecia muito chocada com as minhas piadolas. menos mal. quis certificar-me das coisas duas, três, quatro vezes, e ela, com uma paciência do tamanho do universo, ia respondendo à saraivada de perguntas de uma forma bastante assertiva e clara, nada de rodeios. amei a frontalidade e o trato fácil da médica.
a verdade é que estamos a falar de tomar um comprimido todos os dias, durante cinco anos, e que tem uma série de efeitos secundários pouco agradáveis. não é uma coisa que se encare de ânimo leve...
mas no final decidi que sim, que ia dar uma oportunidade à hormonoterapia (terapia hormonal, whatevs). na verdade, não consegui arranjar argumentos racionais que me levassem a recusar. sou nova, e ter tido CDIS aumenta-me as probabilidades de voltar a ter CDIS ou CDI na mesma mama ou na outra, não queria que esta história me voltasse a chatear tão cedo. não basta já a radioterapia a abrir-me a porta para possíveis encrencas a longo prazo...
mas ficou logo ali escrito na pedra, que caso os efeitos secundários se tornassem insuportáveis, teríamos que rever a estratégia. tudo bem. e sai de lá com prescrição para um ano inteiro, PQP!
no dia seguinte ao deitar, tomei o primeiro dos 1826 comprimidos, a pedir aos deuses para que a droga fosse branda comigo. e já agora, que honrasse o esforço que ia a fazer.
btw, se o nosso médico oncologista é da opinião que devemos fazer a terapia hormonal, não é por dá cá aquela palha. estamos a falar de um profissional de saúde altamente especializado, que sabe imensamente mais do que nós, e do que qualquer merda que possamos ler na net. não só estudou milhares de horas, como certamente já viu milhares de casos, e não! não está a encher bolsos a farmacêutica nenhuma (até porque a patente já expirou, e pelo menos cá, só há genéricos), é mesmo para o nosso próprio bem. esta pessoa analisou o nosso caso, falou com os nossos médicos, avaliou os benefícios versus riscos.. não é o mesmo que passar ben-u-ron para tratar de uma gripe.
claro que a escolha final é sempre nossa, e ninguém nos obriga a tomar nada. mas que esta seja uma escolha muito bem informada, e que estejamos perfeitamente conscientes dos benefícios e dos riscos que existem entre tomar e não tomar.