Madeira // dia 5
Maio 03, 2014
o passeio começou no mercado dos lavradores, no funchal. queria comprar bananas e ainda não as tinha conseguido encontrar maduras nos mercados municipais do estreito e da câmara de lobos.. ca raio..
apesar do mercado estar muito orientado para o turista (desde o que lá vendem, ao preço), gostei bastante do aspecto daquilo. bancas carregadinhas de fruta tropical com aspecto delicioso, muita coisa que ainda nunca tinha visto à venda em lado algum, variedades absurdas das mesmas frutas, frutas cristalizadas.. era essencialmente isso. fruta. fruta impecavelmente empilhada, para agradar ainda mais à vista, porque já se sabe que os olhos também compram comem :D
um cacho de banana prata, três variedades diferentes de maracujá, e um saquinho de fruta cristalizada e ala que se faz tarde.
dali seguimos para o curral das freiras, por um percurso desnecessário graças ao routing manhoso do here+ na madeira.. fez-nos perder tempo e fiquei com dores na cara de tanto cerrar os dentes.. mas às tantas lá nos ligamos com a (única) estrada que ia lá ter.
uma vez no curral, demos por lá umas voltas, mas aquilo não tava assim com grande aspecto.. decidimos parar no centro e o homem foi a um posto de informações (que afinal era a sucursal de um banco lol) perguntar o que é que se fazia ali. voltou desanimado com a resposta. nada, ali não se faz nada, excepto comer castanha nas mais diversas interpretações gastronómicas (sopa, bolos, pão, and so on) e tirar uma foto com a cabeça na freira de cartão, nem há muito para ver. o único ponto de atração turística daquelas redondezas é o miradouro da eira do serrado, que se acede pela estrada antiga, mesmo antes de entrarmos do túnel do curral das freiras.
não deixa de ser irónico.. provavelmente a aldeia mais pitoresca da ilha, não ter grande forma de cativar o interesse da malta que lá vai visitar :/
do tal miradouro, a vista para aquele imenso e profundo vale é avassaladora. aquela povoação ergueu-se num ermo inacreditável, cercado pelos picos mais altos da ilha, rasgados apenas por um desfiladeiro que leva uma ribeira até ao mar. realmente chegar ali há 500 atrás devia ser um pincel de todo o tamanho. mesmo pela estrada antiga devia ser, quanto mais à pata..
dali aproveitamos uma estrada nova (ainda não aparece nos mapas) que vai directa ao pico do areeiro, em vez de ter de voltar ao funchal. pareceu-me muito bem. mas. é. tão. f…ilha-da-mãe! declive do pioro, cheia, cheeeeeeia de gargantas (curva não é mesmo a descrição correcta praquilo) apertadíssimas.. o carro a borrar-se por todos os lados - quase que me tornei beata nesta estrada, de tanto me benzer e rezar aos santinhos que o motor não se fodesse, ou caísse numa ravina por falhar uma curva. acho que foi a estrada mais agressiva e penosa de todas as estradas por onde passei durante aquela semana.
mas o que mais me lixou não foi a estrada ser tramada, foi mesmo o nevoeiro, que não deixava ver absolutamente nada, e eu *sabia* que devia estar a perder um espectáculo de todo o tamanho.. mais outra pro saco do "quando lá voltar"..
fui o caminho todo à espera que o azul se revelasse, tal como no dia anterior… mas acho que a minha sorte já se tinha esgotado… encontrei o pico que me faltava completamente envolto em nuvens gélidas, depois da estafa que foi chegar lá. que desgosto do caneco :P
vá, nothing to see here.. move along, move along..
saímos dali directos ao extremo este da ilha, a ponta de s. lourenço. sem antes ganhar mais uns cabelos brancos às contas das estradas madeirenses. a sério.. quando eu pensava que já não havia de passar por pior… a nokia devia rever as opções de routing nalguns sitios, porque o FDP do gps, em vez de me dar descanso e levar por uma estrada simpática, sem declives acentuados, MESMO que tivesse mais curvas e demorasse mais tempo a chegar ao meu destino, não… mandou-me pelo mais curto que conseguiu, direitinho até santa cruz. fosse por onde fosse!
ai maezinha do céu..
aquilo foi praticamente a corta-mato, fez-me passar por cada sitio que até me horripilava toda.. num carro cuja embraiagem e os travões já estavam todos estropiados por andarem dias a fio a sofrer abusos - e já nem falo do pivete a ferodo ou da chiadeira que já se tinha tornado na banda sonora das férias.. quando de repente, eis que me deparo com o meu derradeiro desafio nas estradas da ilha da madeira:
uma ladeira que parecia ser quase a pique. só via o mar pela frente - asfalto onde estás tu?? tão a ver aquela cena no indiana jones o templo perdido, em que eles estão a ser perseguidos e enfiam-se num carrinho de mina, e vão por ali a fora, os três a berrar? tal e qual!
se aquilo não era um declive de 50%, andava lá perto (kidding, mas era metade disso lol) tava com um medo aos travões me falharem ali que até me pelava.. já ia preparada para puxar a alavanca travão de mão, não fosse o diabo tecê-las, que não me estava nada a apetecer ir parar ao oceano.. vá lá que no fim da descida estava a via rápida, que nos levou direitinhos ao nosso destino.
por ali também a tarde não estava grande coisa, mas nada que impedisse uma passeata na ponta de s. lourenço.. aqueles rochedos têm uma formação interessante, não tem nada a ver com o resto da ilha, parece quase paisagem de deserto, na cor e tudo, algo que se colou ali só assim por acaso.
estendem-se vários kms pelo mar a dentro e separam perfeitamente o norte e o sul da ilha. talvez por isso, presenciei um dos fenómenos mais marados que me lembro: uma tempestade medonha à minha esquerda e um calmo dia de primavera (ainda que nublado, vá) à minha direita. e eu ali no meio, numa fina e frágil fatia de terra..
perdeu a piada quando a tempestade decidiu aproximar-se e ia levando tudo e todos na besaranha. aquela zona está terrivelmente exposta e pelos vistos o vento alí não é para brincadeiras, demos logo o passeio por terminado e seguimos o mais rápido possível de volta ao carro, antes que a coisa ficasse ainda mais feia. não estávamos sozinhos, mal começou a chover, era só camonada a trote por aquele trilho fora, pareciam caracóis a sair debaixo das pedras :D
anyway.. teremos que lá voltar e terminar o que começámos..
ao jantar, para recuperar do desgaste do dia, mariscada no barqueiro. éramos três, mas pedimos apenas uma entrada (lapas, pois claro) e dois pratos principais, bife de atum e uma mariscada (para uma pessoa só, diziam eles lol)… tanta, tanta comida em cima daquela mesa. uma patuscada que dava para quatro, pelo preço de dois \m/
fiquei com a sensação que por aquelas bandas, o marisco come-se frito ou grelhado na chapa, em vez de cozido. confirma-se?
(vá, só faltam mais dois, coragem :D)