A primeira pergunta que me fazem
Maio 07, 2019
"como é que descobriste isso?"
numa mamografia de rotina.
"mas fazes esses exames de rotina por algum motivo? tens casos na família?"
não.
"mas és tão nova..."
parece que não é muito comum as mulheres (sem predisposição genética ou factores de risco) fazerem mamografias de rotina antes dos 40 ou 45, que é quando começamos a receber cartas para participar nos rastreios - e que são opcionais.
mas acontece que eu tenho um grande respeito por esta doença (e um medo filha-da-puta dela), e sei que quanto mais cedo lhe crasharmos na festa, melhor é o prognóstico. por esse motivo, sempre tive muita atenção à minha saúdinha, e se há coisa que levo a sério, são as minhas consultas e exames de rotina anuais.
foi num desses exames, que o médico de imagiologia me fez saber que devia fazer a primeira mamografia entre os 35 e os 37. oh sôdotor, venha ela, tudo a que tenho direito!
na altura, aproveitei o tema e a porta aberta para o gabinete de mamografia para ir tirar as medidas à máquina mais temida pelas mulheres, o mamógrafo. as técnicas que lá estavam foram impecáveis e explicaram-me como é que a coisa se proporcionava. tava longe de imaginar a relação íntima que, anos mais tarde, viria ter com aquela máquina muhahahah
anyway, porque a primeira mamografia (aka, mamografia de referência) vinha assinalada com BI-RADS1 3 (cortesia dos quistos de estimação na mama direita), tive que fazer uma ecografia de avaliação seis meses depois, e uma nova mamografia dois anos após a primeira. sem stress!
eis que chega o dia. já tava praticamente despachada daquela rotina por mais uns tempos, quando ao terminar a ecografia, a médica diz-me que tenho que ir repetir a mamografia na mama esquerda, com ampliação, porque está ali qualquer coisa suspeita que não aparece na eco, nem na mamografia de referência.. OI?!?!?!
...e eu pensei cá para mim, "já foste!", é o que dá não acreditar em coincidências. só com aquela sugestão, fiquei lívida, a cabeça numa confusão, a tentar pensar em tudo, e a não conseguir pensar em nada. até à data, a esquerda nunca me tinha dado preocupações.
pela segunda vez naquela manhã, estavam-me a ensanduichar na máquina do demo. mal a técnica desaparece por de trás da consola, senti-me a apagar, mas foi tão rápido que não consegui avisá-la. quando voltei a mim, estava numa situação algo embaraçosa.. deitada no chão, desnuda da cintura para cima, e com metade do hospital à minha volta.. tal não foi o estardalhaço que fiz ao cair, que acorreu lá tudo a ver o que se passava.
olha que giro, desmaiei! it’s true what they say, há uma primeira vez para tudo na vida lol. felizmente, conseguiram sacar a mamografia a tempo, não tive que repetir. puf!
a ampliação não deixava margem para dúvidas, tava ali uma pequena constelação de microcalcificações2. segundo a médica, na maioria dos casos não têm significado, "mas vamos biopsiar para ter a certeza"... well, fuck!
o primeiro exame que eu nem por isso tinha curiosidade em fazer... BAH!
1 BI-RADS (Breast Imaging-Reporting and Data System), é sistema de classificação do resultado dos achados numa mamografia. vai de 0 a 6, sendo que 0 o exame foi inconclusivo e deve ser repetido, e 6 está provado através de biópsia que o achado é maligno. a categoria 4 divide-se ainda em três, 4a, 4b, e 4c. este sistema serve para clarificar a interpretação dos resultados entre o pessoal médico, e tem recomendações específicas para cada categoria.
ler mais sobre BI-RADS em inglês / português
2 microcalcificações são pequenos depósitos de cálcio que aparecem nas mamografias como pontinhos brancos. são resultantes de processos, a maioria dos casos são benignos, que vão ocorrendo com o envelhecimento natural do tecido mamário. quando apresentam características suspeitas de malignidade, é necessário fazer uma biópsia.
ler mais sobre micro/calcificações (inglês)